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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A farsa da polícia do Arruda - uma palhaçada

Antes de contar o que vou contar, quero deixar claro o seguinte: sou contra a descriminalização da droga, sou careta, não aceito que meus filhos usem drogas e considero necessário um combate eficiente ao tráfico em Brasília, antes que as ilhs de miséria em torno da cidade, uma das mais altas rendas per capita do país, se tornem exército de mão de obra de reserva para o crime organizdo, como no Rio. Mas me duisponho a discutir isso em outra oportunidade. O assunto aqui é outro: a preocupante fascistização da polícia no Distrito Federal.

Agora, a história:

Sempre ouvi, em jornais, histórias de como certas polícias fazem operações de efeito, como propaganda, para encobrir a própria ineficiência. Li, no excelente Notícias do Mirandão, livro do jornalista Fernando Molica, cenas do gênero. Nunca pensei esbarrar com algo parecido. Mas fico pensando o que foi que aconteceu nessa madrugada, em Brasília, sob o nome marqueteiro de Operação Abstinência, quando guardas despreparados, com truculência parecida com a que reprimiu estudantes que se manifestavam contra o governo Arruda, intimidaram, agrediram e ameaçaram jovens moradores do Distrito Federal, com a arrogância que só os batalhões do tempo do general Newton Cruz costumavam fazer.

Resultado da operação, que intimidou centenas de pessoas, obrigou cidadãos a jogar-se no chão ou permanecer por duas horas de pernas abertas com as mãos na parede: seis prisões (vendidos à imprensa como traficantes, quem sabe são, quem sabe nem são). E a demonstração, para meus filhos, de que não podem sair de madrugada na cidade, mesmo que estejam de férias, porque na madrugada de Brasília não existem direitos, e os policiais são promotores, juízes e executivo, embora não haja nenhuma proibição legal ou implícita para que jovens aproveitem as férias jogando sinuca em um dos poucos pontos abertos na capital.

Diz o Correio, AQUI: A comercial da Asa Norte vinha sendo monitorada 24 horas por dia há duas semanas. A investigação, que envolveu mais de cem policiais infiltrados, surgiu das constantes reclamações de moradores assustados com a venda e uso de droga na região. Segundo a Direção Geral da Polícia Civil do Distrito Federal, apesar da certeza de que a maioria das inúmeras pessoas revistadas no local sejam usuários, não há nada a fazer caso não se encontre droga.

Monitoramento bacana esse, que, após semanas de investigação, com "agentes infiltrados", prendeu seis mequetrefes e aterrorizou quase 50 pessoas sem acusação formal, indício de culpa ou mesmo motivos de suspeita, além do fato de estarem se divertindo de madrugada.
Entre as pessoas ameaçadas pela polícia, abusadas e em seguida liberadas estavam meu filho (estudante de engenharia mecatrônica no terceiro ano, um dos alunos de maior nota da classe, ex-diretor da empresa júnior de mecatrônica da UnB, atualmente fazendo curso de férias de introdução à Economia na UnB), minha filha (estudante de psicologia no quinto ano, ex-estagiária da Rede Sarah, aluna exemplar, engajada em programas de atendimento a mulheres e adolescentes em situação de risco), o namorado dela, o irmão (vizinhos, ambos; o pai deles, por infeliz coincidência, amigo de um dos policiais que estiveram na "ação") e dois amigos estudantes de psicologia da UnB. Minha filha, obrigaram-na a encostar na parede com um rapaz encostado atrás dela; meu filho, um meganha agrediu entre as pernas. Cenas de horror e perplexidade para eles, a quem sempre ensinei a respeitar autoridades e condenar a relação de amigos ou conhecidos com traficantes de drogas.

O namorado, por estar com a camisa do Flamengo, recebeu a seguinte ameaça de um policial: "sai daqui, flamenguista, só pode ser traficante". Se todo flamenguista em Brasília for traficante em potencial, vaticino muitas prisões nessa Operação Abstinência. O irmão dele, de 18 anos, foi alegmado, e em seguida solto quando o irmão reclamou com os policiais. (correção: após humilhado, abusado e liberado, ele perguntou ao policial se podia sair por determinado caminho e recebeu como resposta: "vai para a PQP, seu flamenguista maconheiro").

Outra amiga chegou a ser algemada também, e apresentada à equipe de tv como membro da quadrilha de traficantes _ para, logo em seguida, ser solta, sem acusação nenhuma, sem suspeita nenhuma. Suspeita tenho eu: desconfio que havia poucos presos para mostrar às câmeras na palhaçada aparentemente montada para mostrar serviço, e o show tinha de continuar. "Foi filmada, foi filmada", disse um policial aos repórteres.

Não foi. Gostaria que o Correio requisitasse essa filmagem. E que pedisse explicações à polícia: se havia filmagens e suspeitas, porque a soltaram, sem regisrar nem o nome, sem nem sequer levar à delegacia?

Não vale argumentar que o filme a que se referiam os policiais era ds que mostram o governador do DF e deputados botando dinheiro em meia. Esses, a polícia saiu defendendo, espancando estudantes que reivindicavam justiça.

O local era uma sinuca, sítio habitual de encontro de jovens brasilienses (certamente haverá usuários de drogas entre eles; que sejam punidos os que transgredirem a lei, detidos, feito o que for legal _ e podemos discutir isso politicamente, me parece que nem a lei acolhe o que fizeram os policiais; atacar indiscriminadamente as pessoas pelo fato de estarem em determinado local, que é frequentado por brsilienses de tods as diades, até jornalistas que conheço, não usuários de droga; e não é apontado na cidade como valhacouto de criminosos ou traficantes, isso não está em lei, decreto ou código nenhum só o do fascismo policial).

**************

(P.S.: escrevo isso a pedido de meus filhos, que vieram me contar o episódio hoje, e me cobram o que lhes ensinei: que, se não transgedirem a lei, têm a polícia como aliada. A polícia. Não os burocratas truculentos que encobrem ineficiência com espetáculos para a midia).

11 comentários:

  1. Pois é, mas enquanto for possível estas operações de enxugar gelo (ou seja, enquanto as drogas não forem descriminalizadas), qualquer um está à mercê de operações como essas.

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  2. Camarada, enquanto as pessoas aceitarem qualquer método policial para combater o crime as pessoa estarão a mercê de operações como essa. Seja combate às drogas, ao roubo, à pedofilia ou ao que seja, a polícia não tem o direito de abusar do cidadão sem suspeita formada e indícios apresentáveis em um tribunal. Fazer arrastão de meganhas em locais onde pode haver usuário de droga não é operação policial, é violência aos direitos das pessoas.

    Respeito sua opinião, radical, ma a discussão aqui, como eu disse, não é a descriminalização de drogas (de resto, bem defendida por gente como Fernando Henrique Cardoso). Mas a necesssidade de reação da sociedade do DF contra o abuso policial.

    E a cooptação da imprensa para espetáculos de marketing como o que aconteceu ontem.

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  3. O que mais me chama atenção é isso: a polícia ineficiente. Como eles não dão conta dos traficantes de verdade, vão atrás de inocentes que frequentam sinucas ou então de "aviões pé-rapados". Enquanto isso, o grande tráfico segue lindo, leve e solto, como também os assassinos daquele advogado, esposa e empregada na Asa Sul.

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  4. Sleo,

    nenhuma dúvida em relação ao foco de seu post, eu entendi muito bem.

    O problema, que eu não expliquei muito bem, é que gasta-se tanto dinheiro (nosso) e energia nesta guerra de enxugar gelo que falta tempo e verbas para treinamento, educação dos policiais e etc. Além disso, enquanto eles tiverem este tipo de pretexto para mostrar serviço (e contarem com a imprensa para aparecerem como eficientes no combate ao 'crime'), acho difícil melhorarem. É muito fácil fazer uma operação dessas, não é necessário qualquer preparo do policial.

    sorry pelos seus filhos, que não têm nada a ver com isto.

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  5. Sr. Radical Livre:

    Nao é por falta de dinheiro ou tempo que aos nossos policiais nao sao treinados. ´E que nao interessa às òtoridades`. Se eles fossem bem treinados , quem V. acha que eles prenderiam?

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  6. O que esperar de uma policia que tem como chefe um cidadão chamado José Roberto Arruda? Qual é o exemplo que esse desgovernador pode dar aos seus subordinados? E que legitimidade tem esses policiais para abordar cidadãos honestos (com exceção do desgovernador, somos todos honestos até prova em contrário). A verdade é que estamos sendo governados por gângsteres e os seus capangas. Desde que estourou o escândalo que Brasília convive com a “Polícia do Arruda”, que não economiza cassetetes, cavalos e truculência. O pior é que vamos ter que agüentar aquela cara de cachorro cagando na chuva, pois ao que tudo indica Arruda está bem longe da Papuda.
    Abs
    Zanoni Antunes

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  7. Hum, saquei. O "Correio" (mundialmente conhecido como ilibada publicação da Ilibada imprensa brasileira) deve se coçar porque este 'desrespeito', esta 'truculência' esta 'violência' aconteceu com 'presidente de empresa júnior', futuro engenheiro, com a "futura psicóloga" com culpa burguesa e congêneres. Deixa eu te contar uma coisa, Sérgio Leo. Isso acontece diariamente em todas as periferias do país. Todo dia milhares de jovens (claro, raros são os futuros graduados em universidades DA elite -e o uso da preposição foi proposital) são enquadrados com toda essa delicadeza.

    É que é raro isto acontecer com os filhos de grande jornalista com público leitor cativo. Esta 'tendência' à fascistização da PM (seja do DF ou de qualquer outra) não é de hoje. Provavelmente estes futuros engenheiro e psicóloga nem mesmo sujavam fraudas quando isso já acontecia com pobres (na maioria pretos, é sempre bom frisar) por este páis.

    Só quando a água bate na bunda que se percebe como nossa polícia é ineficiente, corrupta e criminosa. As exceções são tão raras que podem ser desconsideras por irrelevância estatística.

    Se isto continuasse a acontecer apenas nos buracos quentes do Braziu teríamos no máximo as protocolares reclamações de 'ah, isso não pode acontecer!'. Como aconteceu com filhotes da Intelligentsia tupinambá, é possível que vejamos nos próximos dias alguma repercusão da coisa. E até alguma mudança na abordagem dos meganhas. Nos bairros ricos, claro, porque mudar demais ai não, né irmão?

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  8. Quanto ressentimento, hein anônimo? Que ódio no coração!

    Não tenho tanto sucesso quanto você imagina, e inspira esse ódio todo, meu caro. E se ler o que escrevo, verá que não ataco a truculência só quando acontece com a classe média.

    Pelo contrário, estou mostrando, com meu exemplo e de meus filhos, que essa classe média aparvalhada, defesnora do pau puro contra a delinquencia, não se dá conta que dar poder a brutamontes sem treino é uma idiotice (no sentido grego do termo, do idiota, o sujeito fora da política, dos assuntos da polis) que acaba voltando-se contra inocentes e contra a mesam classe média.

    Ensinei meus filhos que devem respeitar a polícia, e o estado; e que devem se levantar contra a injustiça, inclusive quando vem da polícia e do Estado. Um erro da esquerda foi considerar todo assunto de segurança coisa da direita, e deforntar-se, agora, com problemas sérios quando chega ao poder nas cidades, nos estados.

    Esses filhos, que nunca usaram fraudas, mas fraldas, cresceram sendo ensinados a não aceitar a violência, seja contra quem for _ por isso, talvez, minha filha, em vez de sonhar com emprego como psicóloga numa grnde empresa, trabalha com mulheres e crianças vítima de violência doméstica.

    Ao contrário do que diz você, há exceções à bandalha na polícia, e é por elas que me bato, porque a sociedade precisa, sim de segurança. Colocar todos na mesma lata de lixo só serve aos interesses dos corruptos e bandidos.

    Esse seu cinismo, que esconde ressentimento e serve ao status quo, não é uma boa saída, caro anônimo. Talvez funcione como desabafo para quem inveja o sucesso dos outros (mesmo quendo é menor do que sua patogçenica inveja faz parecer). Quanto pior melhor, não é mesmo? para que condenar a violência policial, não é mesmo? Vai continuar nas favelas, não é mesmo?

    Que triste figura é você, anônimo.

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  9. Pensando bom...

    Talvez o ressentimento do anônimo aí de cima esteja no fato de eu fazer questão de detalhar as qualificações de meus filhos; e, nesse caso, talvez tenha eu a culpa de não ter previsto uma reação possível.

    Pensei nos deformados mentais de direita, que defendem poderes totais aos meganhas para acabar com o crime, sem perceber que esse poder em geral é mal usado e serve para extravasar a própria personalidade crimonosa de alguns policiais ou seu ressentimento contra o povo. Volta-se contra a classe média que o recrutou.

    Não havia me dado conta de outra deformação mental, a de esquerda, na qual toda a imprensa´_ e os jornalisats _ é vista como cúmplice elistista do status quo, e todo filho de classe média é um opressor em potencial, um alienado à espera de se tornar quadro das elites dominantes.

    A polícia incompetente se aproveita, em seu show para a midia, além da preguiça mental de jornalistas e leitores de jornal, dos estereótipos (do tipo "favelado é bandido, logo morto em incursão na favela só pode ter meredcido o fim que levou"; "jovem de classe média em Brasília é tudo membro de gang ou filho mimado de poderoso, logo qualquer ação cntra eles é uma retirada de privilégios imerecidos"; coisas assim).

    Daí a absurda falta de senso crítico do jornalista (e chefes) da TV Globo e do Correio em sua versão impressa, que engoliram sem questionar a versão policial de que todos os reunidos pela polícia eram "suspeitos", de alguma forma vinculados ao tráfico.

    Fiz questão de dizer quem são meus filhos para mostrar 1)não são jovens desocupados, mimados, cujos pais lhes passam a mão na cabeça perdoando sua vida inútil e sem rumo; 2) não são viciados em drogas. Não se estuda mecatrônica e se avança no curso envolvendo-se com as drogas mostradas na reportagem, como o crack, nem uma estudante de psicologia com o currículo de minha filha faz o gênero burguesinha metida em gang.

    Claro, mencionei a descrição deles porque me orgulho disso. O pai de meus filhos (eu mesmo) estudou em escola pública todo o segundo grau e fez universidade pública; a mãe fez escola pública toda a vida e teve de estudar sozinha para compementar os conhecimento que a Escola Normal não lhe deu. Desde os 22 anos, ambos vivem de seus próprios recursos e trabalho, e com eles construíram seu próprio patrimônio.

    Hoje são jornalistas com carreira estabelecida _ não "grandes jornalistas com leitor cativo" (embora não veja qual o lado negativo disso) _ por seus méritos e estudo, não por proteção de nenhum governo ou poderoso de plantão. A mãe de meus filhos tem feito carreira cobrindo políticas públicas, com preocupação publicamente verificável de mostrar esse tipo de desigualdade e injustiça que nosso anônimo usa retoricamente para destilar seu despeito.

    Quis mostrar que, quando sem à rua pedindo ações de efeito contra o crime, com poderes à polícia acima de qualquer cuidado com direitos humanos, abre-se caminho para esse tipo de ação midiática e de resultados mentirosos que aconteceu em Brasília.

    Pergunto ao Correio e TV Globo: cadê os traficantes? cadê os respons´paveis pelo tráfico filmado nas ruas de Brasília? Qual o resultado real da ação de "inteligência", além de uma matéria excluisva para a Globo, a intimidação de jovens que ousaram estar na rua de madrugada e a prisão de meia dúzia de mequetrefes??????

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  10. clap, clap, clap.
    Espero que vc continue a divulgar os detalhes dessa farça e que obtenha respostas do correio e da tv globo, assim como dos policiais que comandaram a farsa.
    muitas vezes, temos certeza da farsa, mas não podemos provar. nesse caso você pode e mais, pode divulgar.

    aiaiai

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  11. Sergio,

    Minha total solidariedade.
    Sei que esse tipo de ação é disseminado nas polícias de todo o país, mas a do DF parece ser reincidente genérica, específica e piorada.
    Em meu primeiro fim-de-semana em Brasília, 21 anos atrás, passamos, eu e 2 colegas, por constrangimento similar.
    Nada mudou, apenas piorou.

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