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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Junkmail (ou "não, essa porcaria não é do Veríssimo nem do Jabor")

Naquele dia, acordou cedo, ligou o computador, conectou-se à Internet, consultou as trezentas mensagens que lotavam sua caixa postal e, inspirado nelas, decidiu mudar de vida. Para começar, aceitou a proposta do nigeriano que queria compartilhar com ele uma pequena fortuna ganha em negócios nebulosos.

Ainda que o novo sócio lhe garantisse um futuro sem preocupações, aceitou também as dicas de ações “quentes” na Bolsa de Nova York, que estavam ao alcance de um clique em quinze das mensagens que havia recebido. Guardou, para o futuro, os incontáveis currículos que lhe mandavam (vai que decide abrir uma empresa). E respondeu à oferta de manual para otimizar as vendas, ainda que não pretendesse comercializar coisa nenhuma.

Desprezou os cinco e-mails de remetentes que se diziam “amigos” e lhe ofereciam “fotos da traição” _ estava separado há algum tempo, o passado não lhe interessava mais. Mas, advertido por uma ex-namorada de que o tamanho importa, sim, porque pode dificultar pelo menos metade das posições do Kama Sutra que encomendara (e até algumas mais cotidianas), enviou os dados do CPF e do cartão de crédito para comprar o kit que lhe permitiria agregar uma nova dimensão à sua anatomia.

Excitado com as perspectivas, resolveu também corresponder às cantadas virtuais das vinte americanas que se diziam casadas mas calientes, e dispostas a propiciar-lhe momentos inesquecíveis de prazer.

Por via das dúvidas, aceitou comprar o Viagra propagandeado por duas das quarenta mensagens sobre o assunto, e topou testar os métodos infalíveis que lhe ofereciam para emgrecer dormindo, perder peso comendo e ganhar forma física sem fazer força (se não servissem para ele, alguma das americanas casadas decerto se interessaria).

Viu chegar e-mail urgente da secretária, com recado da administradora do cartão de crédito, falando em estranhos movimentos na sua conta. Clicou então nos três e-mails de bancos que anunciavam atualizações no pacote de segurança e forneceu os dados requeridos, inclusive sua senha do cartão e do internet banking, além de dados pessoais, como o nome da própria mãe (ainda que nem tivesse contas em um dos bancos, e que o destinatário de uma das mensagens fosse um nome diferente do seu; ah, essa impessoalidade dos gerentes bancários).

Mandou três e-mails aceitando a proposta imperdível para comprar relógios Rolex . Deixou para mais tarde os e-mails que lhe ofereciam vídeos da Pamela Anderson e da Paris Hilton, e, curioso, baixou as fotos das cinco moças de quem não se lembrava, mas que diziam ter estudado com ele no passado e estar morrendo de saudade.

Mais não fez, porque, inexplicavelmente, o computador travou.

(uma versão desse texto já compareceu no Sítio do Sergio Leo, em 2006. mas quem lembra?)

Um comentário:

  1. 2006! caramba, a internet é moderna mas não muda, né? bom, pelo menos os spams...
    aiaiai

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